Ciúme, Zelo Doentio

Não fique curtindo essa dor. Encare os fatos com outros olhares.

Ciúme, zelo doentio. Lançamento Futuro

Deixar cair o véu que recobre a natureza humana. Deixar a nudez dos sentimentos e emoções apresentarem sua reveladora realidade. Ir às profundas contradições do pensamento.


Romper princípios, valores. Deixar falar a dor, a vida, o medo, o desejo. É a revelação proposta num diário de vida.

O sujeito padecendo da dor, perdido de ciúmes, propõe encontrar os caminhos responsáveis pela sua sorte.

O ciúme mostra, ao longo das páginas, ser sintoma capaz de destruir relações e provocar ira.

Numa persistência invejável, o sujeito vai, aos poucos, desatando os nós da trama costurada pela vida e suas vicissitudes.


sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Paixões perigosas

Nelson Motta - O Estado de S.Paulo
Não é só nas novelas que a paixão cega, ensurdece, escurece a mente e embota a inteligência. Ela nos leva a fazer o inconcebível, a aceitar o inaceitável, a esquecer o inesquecível. Como em um transe, uma possessão, ela se incorpora e comanda, atropela a ética, a estética e as evidencias.


Paixão é droga pesada, que provoca êxtase e dependência, é insaciável, e sua falta produz desespero, vazio e dor. Mas sem paixão, dizia Nelson Rodrigues, não se pode nem chupar um Chicabon.

É impossível imaginar grandes conquistas pessoais e coletivas sem paixão, sem entrega. É ela que nos move além do instinto, da razão e de nós mesmos. Fora as carnais, que são hors concours, as paixões mais perigosas parecem ser as políticas, esportivas e religiosas.

É fascinante, e assustador, ver pessoas educadas e delicadas se transformando em bestas boçais cuspindo fogo e soltando coices verbais por um jogo de futebol. Filmados, não se reconheceriam. Reconhecidos, se vexariam. Mas é mais forte do que eles.

Na faculdade, já achava meio ridículos os debates acalorados nas assembleias estudantis, movidos a slogans, palavras de ordem, acusações, bravatas e ameaças. E não raro, força bruta e intimidação. Nobres e pobres paixões juvenis.

Hoje, ler os comentários de leitores nos blogs é chafurdar no que há de mais estúpido na paixão política, e pior, partidária. Pelo seu potencial destruidor, por emburrecer os inteligentes, fortalecer os intolerantes, afastar os diferentes, entorpecer a razão, inviabilizar qualquer convivência.

É a paixão desses militantes sinceros e radicais, de qualquer partido, coitados, que serve de massa de manobra para políticos apaixonados - não pelo País ou a cidade - mas pelo poder, e por eles mesmos.

Como equilibrar a paixão necessária com a razão e a serenidade indispensáveis para viver e crescer em liberdade? Paixões são indomáveis e incontroláveis, delas nascem as piores formas de servidão. Nos resta esperar o lançamento de um Super Paixoneitor Control Tabajara, e não perder a novela Passione, uma aula sobre os estragos que ela provoca.




quarta-feira, 12 de maio de 2010

Síndrome Procusto

Na mitologia grega, um gigante chamado Procusto convidava pessoas para passarem a noite em sua cama de ferro. Mas havia uma armadilha nesta hospitalidade: ele insistia que os visitantes coubessem, com perfeição, na cama. Se eram muito baixos, ele os esticava; se eram altos, cortava suas pernas.

Por mais artificial que isto possa parecer, será que não gastamos um bocado de energia emocional tentando alterar ou "enquadrar" outras pessoas de formas diversas, embora menos drásticas?

Esperamos, com freqüência, que os outros vivam segundo nossos padrões e ideais, ajustando-se aos nossos conceitos de como eles deveriam ser. Ou então, assumimos a responsabilidade de torná-los felizes, bem ajustados e emocionalmente saudáveis.

A verdade é que grande parte dos atritos que existem nos relacionamentos acontecem quando tentamos impor nossa vontade aos outros - quando tentamos administrá-los e controlá-los.

De tempos em tempos, em graus variados, assumimos responsabilidades que não nos pertencem. Tentamos dirigir a vida das outras pessoas, com a intenção de influenciar tudo, desde a dieta até a escolha de roupas, decisões financeiras e profissionais. Tomamos partido e ficamos excessivamente envolvidos, até encontramos ou criamos problemas onde não existem para poder criticar e oferecer conselhos.

É preciso entender que ninguém muda até que deseje fazê-lo, esteja disposto a mudar e pronto, para tomar as atitudes necessárias para efetuar a mudança. E por este motivo que o resultado de nosso "procustianismo" é, contudo, sempre o mesmo. Estamos destinados a fracassar em nossos esforços para controlar ou modificar alguém, não importa o quanto sejam nobres nossas intenções. E estamos destinados a terminar num turbilhão - frustrados, ressentidos e cheios de auto-piedade.

E o que dizer das pessoas que tentamos orientar? Por outro lado, mostramos falta de respeito por seus direitos como indivíduos, privando-as da oportunidade de aprender através de suas próprias escolhas, decisões e erros. Em resumo, nosso relacionamento com aqueles com os quais declaramos nos preocupar profundamente torna-se desarmonioso e forçado.

Permita que os outros vivam sua vida, enquanto vivemos a nossa - viva e deixe viver.
(autor desconhecido)

terça-feira, 13 de abril de 2010

Relacionamentos

Relacionamentos
Rubem Alves ( retirado da internet )

Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que, os casamentos (relacionamentos) são de dois tipos: Há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol.
Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
Explico-me.
Para começar, uma afirmação de Nietzsche com a qual concordo inteiramente.
Dizia ele: “Ao pensar sobre a possibilidade do casamento, cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: Você crê que seria, capaz de conversar com prazer com esta pessoa até sua velhice”?
Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.
Sheerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme “O Império dos Sentidos”.
Por isso, quando o sexo já estava morto na cama e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites.
O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fosse música.
A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer.
Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: ”Eu te amo...”
Barthes advertia: “Passada a primeira confissão, “eu te amo” não quer dizer mais nada. É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética”.
Recordo a sabedoria de Adélia Prado: “Erótica é a alma”.
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola.
Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir sua “cortada”, palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar.
O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo.
Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca.
Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la.
Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui, ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra, pois o que se deseja é que ninguém erre. E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
bola: são nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras.
Conversar é ficar batendo sonho prá lá, sonho prá cá...
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada.
Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão...
O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento.
Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração.
O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor...
Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...

RUBEM ALVES é educador, escritor, psicanalista e professor emérito da Unicamp

terça-feira, 23 de março de 2010

Pensando bem...

"Os ciumentos não precisam de motivo para ter ciúme. São ciumentos porque são. O ciúme é um monstro que a si mesmo se gera e de si mesmo nasce." (William Shakespeare)

Bem, acho que Shakespeare não conhecia a psicanálise, caso contrário saberia que o ciúme pode ser um estado passageiro. E ainda, o ciúme não é um monstro que a si mesmo se gera, ele pode ser gerado por passagens mal resolvidas na infãncia.

"De todas as enfermidades que acometem o espírito, o ciúme é aquela a qual tudo serve de alimento e nada serve de remédio." (Michel de Montaigne)

Vejam Michel de Montaigne coloca o ciúme como uma enfermidade, ele sabia ser o ciúme uma doença, porém discordo quando diz que nada serve de remédio, afinal de contas podemos "tratar" esse mal que acomete a alma.

"Os ciumentos sempre olham para tudo com óculos de aumento, os quais engrandecem as coisas pequenas, agigantam os anões e fazem com que as suspeitas pareçam verdades." (Miguel de Cervantes)

Fantástica definição de Cervantes. O ciumento olha para tudo com óculos de aumento. Na verdade por carregar emoções de fatos antigos, o ciumento, vive duas cenas: a atual e outra a recalcada. Sendo assim suas atitudes, seu olhar em relação a realidade está alterado.

sábado, 20 de março de 2010

Para refletir -

Conta uma lenda dos índios sioux que, certa vez, Touro Bravo e Nuvem Azul, chegaram de mãos dadas à tenda do velho feiticeiro da tribo e pediram:
- Nós nos amamos e vamos nos casar. Mas nos amamos tanto que queremos um conselho que nos garanta ficar sempre juntos, que nos assegure estar um ao lado do outro até a morte. Há algo que possamos fazer?
E o velho, emocionado ao vê-los tão jovens, tão apaixonados e tão ansiosos por uma palavra, disse:
- Há o que possa ser feito, ainda que sejam tarefas muito difíceis.
Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte ao norte da aldeia apenas com uma rede, caçar o falcão mais vigoroso e trazê-lo aqui, com vida, até o terceiro dia depois da lua cheia.
E tu, Touro Bravo, deves escalar a montanha do trono; lá em cima, encontrarás a mais brava de todas as águias. Somente com uma rede deverás apanhá-la, trazendo-a para mim viva!
Os jovens se abraçaram com ternura e logo partiram para cumprir a missão.
No dia estabelecido, na frente da tenda do feiticeiro, os dois esperavam com as aves. O velho tirou-as dos sacos e constatou que eram verdadeiramente formosos exemplares dos animais que ele tinha pedido.
- E agora, o que faremos? Os jovens perguntaram.
- Peguem as aves e amarrem uma à outra pelos pés com essas fitas de couro. Quando estiverem amarradas, soltem-nas para que voem livres.
Eles fizeram o que lhes foi ordenado e soltaram os pássaros.
A águia e o falcão tentaram voar, mas conseguiram apenas saltar pelo terreno. Minutos depois, irritadas pela impossibilidade do vôo, as aves arremessaram-se uma contra a outra, bicando-se até se machucar.
Então o velho disse:
- Jamais esqueçam do que estão vendo, esse é o meu conselho.
Vocês são como a águia e o falcão. Se estiverem amarrados um ao outro, ainda que por amor, não só viverão arrastando-se, como também, cedo ou tarde, começarão a machucar um ao outro. Se quiserem que o amor entre vocês perdure,voem juntos, mas jamais amarrados. Libere a pessoa que você ama para que ela possa voar com as próprias asas. Essa é uma verdade no casamento e também nas relações familiares, de amizade e profissionais.
Respeite o direito das pessoas de voar rumo ao sonho delas.
A lição principal é saber que somente livres as pessoas são capazes de amar.